Reflexão Episcopal
Nem só a Assembleia de Deus sofre o fenômeno do fracionamento (cerca de 100 diferentes “ministérios”). Vou viajando por esse País e encontro “rachas” e “rachas dos rachas” de Igrejas católicas nacionais e de Igrejas ditas vétero-católicas não em união com Ultrecht. No vazio de pastorais da misericórdia pessoal, familiar e comunitária deixada pela Teologia da Libertação, elas vão batizando, casando e enterrando (e ganhando uns trocadinhos por isso...). Em Campinas, certa vez, encontrei a imensos outdoors de um dos “bispos” oferecendo hóstias consagradas para a comunhão via por correio, via reembolso postal. Hoje, imagino, deve ter um serviço de “delivery”...
Outras Igrejas se denominam de “ortodoxas”, mas sem vínculos claros com qualquer dos ramos das Igrejas orientais. Algo como “estamos sob a autoridade do Metropolita na Nova Guiné, que está em comunhão com o Patriarca dos Camarões, que é uma dissidência dos vétero-búlgaros no exílio...”.
Quase toda essa gente tem origem na Igreja Católica Romana, onde não preencheram os requisitos, ou foram barrados em suas pretensões, e esses rachas permitem que elas tenham algum sentido de realização. As denominaria de “católicos do B”.
Agora, com a internet, esse mesmo público vai descobrindo que há, nos Estados Unidos, cerca de cinquenta jurisdições que se denominam de “anglicanas” ou “episcopais”, resultado do movimento Continuante e do movimento de Convergência. Do ano 2000 para cá, pipocaram, Brasil a fora, um sem número dessas Igrejas, quando muitos dos seus fundadores conheciam o Livro de Oração Comum (LOC) “de vista”, nunca tinham posto os pés em um culto anglicano, e tinham dificuldade de diferenciar o Arcebispo de Cantuária de ‘Vinho de Catuaba’...
E tome bispos e arcebispos! E haja pompa, circunstâncias e vaidades! E haja brigas e rachas!
Alguém já disse que são adultos que agem como crianças que gostavam de brincar não só de casinha, mas de igrejinha...
No caso dos que se apresentam como “anglicanos”, é costume se dizerem “anglo-católicos”, quando os anglo-católicos que havia na antiga Província do Brasil no passado já morreram. O que temos hoje são católico-liberais (casca parecida, mas miolo oco), e não sei onde essa nova gente foi aprender anglo-catolicismo. Na verdade, o que eles são mesmo (para se usar um neologismo), são “anglo-romanos”... Soube que em uma Diocese do sudeste tem até clérigo que comemora o dia 12 de outubro, com estátua da virgem de Aparecida e tudo. Haja Igreja reformada...
Em mais de uma década de exercício do Episcopado, tenho recebido muitos pedidos de pessoas com esse perfil, com a intenção de se tornarem clérigos da Diocese do Recife, que sempre esbarram na nossa crônica falta de dinheiro, nas exigências dos nossos Cânones, e na nossa insistência de que há uma diferença muito significativa entre católicos nacionais (como a ICAB, por exemplo) e católicos reformados (como os anglicanos). Com a nossa história e os 39 Artigos de Religião, este não é o espaço mais adequado para se brincar de padre e de missa... A Liturgia que preservamos vem umbilicalmente junta de uma fé reformada. Aí, como a narrativa bíblica do moço rico, esses irmãos se afastam tristes... e partem em busca de um outro espaço para realizarem seus sonhos de criança, impedidos pelos fantasmas vaticanos, com quem continuam a cultivar uma relação de amor-ódio...
Paripueira (AL), 05 de abril de 2009.
+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano
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